sexta-feira, 24 de abril de 2009

Flores para los muertos

Houve um tempo em que eu comprava flores.
Na floricultura.
Na floricultura do Itaim Bibi.
Eu ia lá, olhava, olhava, e comprava flores.
Assim, à tôa mesmo.
Só pelo gôsto de ver flores, ter flores, dar flores.
Não, não era baratinho, mas era comprável.
Hoje em dia, mtas vezes não tenho nem dinheiro vivo
para comprar desses caras nas esquinas.
Também não é baratinho.
Nas esquinas deveria ser baratinho, mas não é não.
E nas floriculturas nem sei, porque há anos parei de ir.
Devo ter me espantado com os preços e não voltei.
Vejo flores na internet, floriculturas, aliás.
E só acho arranjos, essa coisa chata de “arranjos”.
Eu comprava maços.
Maços de flores.
Embrulhados prá presente até prá mim mesma,
laços nos maços.
Hoje quis comprar flores para uma amiga,
mas só vejo arranjos, desagradáveis arranjos fixos,
imutáveis, fast-flowers, ou fleurs prêt-à-porter.
Já vem em vasos, aquários, tubos.
E custam 40 dólares, 60 dólares, 100 dólares.
A gente faz contas mentais em dólares hoje em dia, nem sei mais porquê.
Maços de flores eram baratos, ou mais baratos que arranjos.
E só ganhavam papéis bonitos, o de seda por dentro e laços por fora.
Eram tão bonitas essas minhas flores, daqueles tempos idos.
E custavam em brasileiro mesmo e eram compráveis.
Hoje acho que só nas bancas da Dr. Arnaldo, ou talvez no Largo do Arouche,
mas não sei, porque tem banca da Dr Arnaldo com site na internet.
Hoje eles devem ter “arranjos” de condolências para quem vai ao cemitério lá.
Fast-flowers para para los muertos.
Pobres mortos, nem mais alguém que se ajoelhe por eles
e que ajeite as flores soltas.
Deve ser só apoiar os aquários, os vasos, os tubos e pronto.
Pobres mortos.
Pobres flores.
Pobres de todos nós.

2 comentários:

Eduardo Lara Resende disse...

Pobres de todos nós, Ivana!
Ótimo texto.
Abraço (com flores).

Eduardo Lara Resende disse...

Pobres de todos nós, Ivana!
Ótimo texto.
Abraço (com flores).